Muitas vezes somos tentados a pensar que a paisagem que conhecemos desde sempre, foi sempre assim. E, as mais das vezes, estamos redondamente enganados. A paisagem urbana evolui ao longo dos anos com a intervenção humana de tal forma que, não fosse a possibilidade de aceder a imagens fotográficas, seríamos tentados a achar que aquilo que hoje vemos esteve sempre ali desde tempos imemoriais.
Vem isto a propósito deste cliché da Fotografia Alves, de Chaves, dos anos 30 do século passado, usada num bilhete postal ilustrado da Casa das Lérias, de Alcino dos Reis, que retrata uma altura em que Amarante sofreu grandes intervenções urbanísticas, e no qual se podem ver algumas delas.
Do lado direito da imagem, podemos ver o grande muro de suporte da actual Alameda Teixeira de Pascoaes que resultou na criação de uma grande praça para onde passou o mercado que funcionava no Largo de S. Gonçalo e que implicou a supressão das escadas que acediam ao rio e a elevação da fonte aí existente para a quota da actual Alameda, nas costas do Cartório Paroquial.
Na foto ainda é visível a falta das meias laranjas.
O próprio formato da designada "praça" também não foi sempre assim, existindo um muro separador nas proximidades do actual quiosque, no final do qual se acedia através de umas escadas que ligavam àquelas que lá existem e que permitem chegar ao rio.

Do lado esquerdo da foto, propositadamente aumentada, as alterações são ainda mais significativas:
- O edifício do actual Restaurante Zé da Calçada, sem o terraço actual;
- O Jardim Amadeo de Souza Cardoso devidamente delimitado com peças em cimento que mais tarde seriam substituídas pela guarda/varanda em ferro;
- Daí para cá, numa cota inferior, existia um caminho inclinado que dava acesso ao rio, sensivelmente no sítio do actual pontão (ou pontilhão).
Por esta altura, o ribeiro corria a céu aberto pelos campos, desde junto à Pensão Avião até ao rio e, naturalmente, não existia o muro que lá está hoje e que deu origem à avenida Beira Rio.
Como particularidade, diga-se que aqui esteve previsto o lançamento de um arruamento marginal que substituiria o traçado da avenida Alexandre Herculano mas que, afinal, se manteria até aos nossos dias.