Há muitos anos que venho travando uma batalha contra aqueles que defendem que o vinho verde é um vinho de ano. Um vinho que não consegue "sobreviver" mais que um verão. Que eu justifico por não terem qualidade.
Felizmente, nos últimos 30 anos, a exemplo de outras regiões vitícolas do país, a região dos Vinhos Verdes melhorou imenso em termos de viticultura e de enologia. Ou seja, os produtores passaram a ser mais cuidadosos na forma como tratam as suas vinhas (desde a concepção, localização, escolha das castas e dos porta enxertos, adubações e podas) e, sobretudo, investiram nas suas adegas.
O que lhes permitiu, entre outras coisas, fazer o controle da fermentação.
Resultado; Melhores vinhos, com mais teor alcoólico e menor taxas de acidez.
E se há 20 anos os vinhos verdes brancos tinham 9 graus, hoje vemos que a grande maioria dos vinhos verdes brancos tem 11/11,5 graus e muitos deles ultrapassam mesmo esses valores.
Posto isto, coloca-se a pergunta óbvia: Porque é que estes vinhos não podem perdurar no tempo e envelhecer na garrafa? E gerarem marcas com grande notoriedade?
A resposta é simples: É óbvio que podem e há já alguns bons exemplos dessa possibilidade.
Recentemente, abri uma garrafa de vinho verde branco da ""Casa de Tormes -1998 e, apesar dos seus 11 anos, estava ainda em excelentes condições. Oxidado em níveis aceitáveis e com níveis de envelhecimento muito interessantes.
Mas a boa surpresa veio dos vinhos verdes tintos.
Recentemente, abri uma garrafa da "Quinta do Outeiro de Baixo - 2000", vinho premiado na época com a Medalha de Ouro pela CVRVV. Criou depósito, o que é natural. Mantém uma cor vermelha viva e uma espuma ainda rosácea. O paladar demonstra o envelhecimento do vinho. Notável para um vinho verde tinto com 10 anos.
Na passada 6ª feira, tive o privilégio de abrir uma garrafa de vinho "Do Arco da Velha", selo da CVRVV de 2003.
Igualmente notável o que pudemos provar. Uma cor intensa, um paladar consistentemente envelhecido.
Parabéns aos produtores e suas equipas que nos permitiram esta experiência.
Contudo, tenho consciência que este movimento não é relevante para os grandes líderes, em termos de produção, da região dos vinhos verdes.
O mesmo se diga para a CVRVV que eles controlam. Para eles interessa quantidade e preço. Uma bebida simples, pouco complexa, que, como a Coca Cola, deve ter gás e ser bebida fresca.
O tempo encarregar-se-á de provar que eles estão profundamente errados.
Em 2003, por ocasião de uma entrega de prémios dos melhores vinhos verdes da subregião de Amarante, tive a oportunidade de dar a provar um vinho branco de Amarante de 1991.
A reacção dos presentes foi inesquecível. Um misto de espanto e de estupefacção. Que recordo com satisfação.
Hoje esse vinho tem 19 anos e... ainda tenho uma dezena de garrafas (para memória futura!).
Espero que os produtores da região dos vinhos verdes e, especialmente, os da subregião de Amarante, possam perceber a importância de produzir vinhos de grande qualidade que possam passar o teste de sobreviver a 5 longos anos de garrafeira.
É evidente que depois há o marketing, o lobbing e a distribuição.
Sem estes grandes vinhos que fazem marcas com grande notoriedade, nunca teremos uma região respeitada por produzir vinhos de grande qualidade.