
Fotografia de Foto-Carneiro
"Amarante, os Amarantinos e o RioO post que agora escrevo tem por base as palavras do meu pai e as suas memórias relacionadas com o Tâmega.
O meu pai nasceu em 1937 e aquando do seu nascimento já existiam velhos hábitos e costumes entre os amarantinos, relacionados com o rio, como se pode ver na fotografia que ilustra este post, e onde é facilmente identificado o meu mui querido avô Rodrigo, segundo na foto, contando da direita para a esquerda, o primeiro encostadinho à barraca, ainda muito jovem e solteirinho da silva.
O rio foi património passado de pais para filhos e estas barracas de madeira listada, contemporâneas do meu avô, povoaram ainda a infância e adolescência do meu pai não tendo chegado, no entanto, a alimentar as minhas memórias de infância, passada nos Poços.
As barracas eram montadas anualmente, inaugurando a época balnear, sobre a corrente do rio num sítio chamado Gola, entre a Ínsua e o Areal, e serviam não só para as pessoas mais modestas tomarem o seu banho de limpeza semanal, como também para as senhoras importantes e excêntricas de Amarante se refrescarem, a coberto dos olhares, curiosos e matreiros, da rapaziada que povoava o Tâmega, à época. Mas a rapaziada parece que fintava as ditas senhoras e mergulhando nas águas outrora límpidas do rio espreitava-as, Ai Jesus! Nuas!, tal qual tinham vindo ao mundo!
Durante a infância do meu pai era o senhor Adolfo Flores que ensinava a moçarada a nadar e foi com este senhor que o meu pai aprendeu a deslocar-se, nadando em segurança, no rio. De cabaças debaixo dos braços, para não ir ao fundo, lá ia ganhando destreza e aperfeiçoando os movimentos, até o senhor Adolfo o mandar fazer a prova final e que consistia em nadar, sem as ditas cabaças, desde a ponta da Ínsua até ao pilar da Ponte Velha, acompanhado pelo senhor Adolfo, que da sua Guiga, barco típico que ainda hoje povoa o rio misturado com umas ditas dumas gaivotas, ia vigiando a prova de superação de dificuldades acrescidas, num local de grande profundidade do rio. Dizia ele que se a moçarada conseguisse nadar aquela distância, sem parar, estava já apta a nadar em qualquer lugar e sem mais companhia, quer humana, quer a das ditas cabaças.
E a moçarada lá ia crescendo, no Verão sempre enfiada no rio, chapinhando e brincando, bebendo da sua água quando tinha sede, pescando as enguias que se movimentavam no fundo pedregoso do rio, com garfos, nadando até dizer chega, espreitando as senhoras nuas dentro das barracas.
Este foi um tempo anterior aos Poços, que pura e simplesmente não existiam enquanto praia, na infância e adolescência do meu pai."
Anabela Magalhães
Com a devida homenagem, copiamos, com autorização da autora do blogue Anabela Magalhães, este belíssimo e raro post sobre os costumes do início do século XX (com propriedade) à beira rio Tâmega. A fotografia é um espanto e as referências são uma delícia.
Aqui nas Margens (e a Anabela também por aqui passa com assiduidade), onde a partilha é um princípio estrutural, ficamos felizes por poder partilhar "coisas" deste valor.
Obrigado Anabela.