domingo, 7 de dezembro de 2008

Paulino Cabral - Abade de Jazente


Paulino António Cabral foi um dos mais brilhantes e polémicos poetas portugueses do século XVIII.
A sua obra está aí, rica, estruturada, incontornável em qualquer abordagem da poesia do século XVIII. A lenda em torno da sua vida de galã permanece com igual força, alicerçada nos relatos feitos por terceiros. Para isso muito contribuiu Arnaldo Gama que faz dele figura principal da obra "Um Motim há cem anos", como se pode ver por esta passagem:
"O recém chegado era um Padre. A batina que usava à francesa, sem capa e com um pequeno cabeção, que lhe descia até metade do ante-braço, era de finíssima lila, e as meias era de seda, lustrosas e bordadas. Os sapatos, de salto e primorosamente apurados, eram adornados por umas enormes fivelas à la Chartre, feitas de puro oiro. Uma larga e comprida faixa de seda preta, de cujas extremidades pendiam duas grandes borlas, cingia-lhe a batina sobre a cintura. Na cabeça tinha uma elegante cabeleira, suficientemente empoada, e trazia na mão um chapéu de pêlo de castor, talhado pelo útlimo rigor da moda. Não se riam porém que diante de si têm nada menos que o celebre poeta Paulino Cabral, um dos mais distintos poetas portugueses da época, a flor e a nata dos bardos do Porto..."
Firmino Pereira, (in "Porto d'outros tempos") faz dele o seguinte retrato:
"O Abade de Jazente era Poeta satírico, à laia de Tolentino. Achava a vida encantadora e tratava de a gozar o mais amplamente que lhe era possível. Epicurista amável e festivo, gostava da mulher e da boa mesa. Amava com carinhosa ternura e comia com o melhor dos apetites. E não era muito difícil de contentar visto que facilmente deslizava da Nize sentimental e languida para a "sopeira" roliça e positiva".
Alexandre O'Neill reivindicou para si a herança poética do "Poeta faceto Abade de Jazente".
Gonçalves Viana e Miguel Tamen são os grandes estudiosos da obra de Paulino Cabral mas não se pode deixar de lembrar os trabalhos e referências de Jacinto do Prado Coelho, José Joaquim Castelo Branco, António Cabral, Luís Adriano Carlos, Ernesto Melo e Castro, Fernando Soares Gonçalves, Balbino Carvalho, e (já agora) o autor destas linhas.
Nascido a 6 de Maio de 1719 na Qta do Reguengo, na fregusia da Lomba, concelho de Amarante, aqui haveria de falecer em 20 de Novembro de 1789, estando sepultado na Igreja de S. Pedro.

(Às criadas do Convento em um Abadessado)

Ó vós, que em Santa Clara de Amarante,
Suposto que sirvais, sois moças belas,
E uma vez na cozinha, outra nas celas
Defumais aos braseiros o semblante;

Vós que, para avistar algum amante
Cobris o rosto com subtis cautelas,
E umas vezes olhais pelas janelas,
Outras vezes estais pelo Mirante:

Vós fartai-vos agora, que este dia
de tanto alv'roço traz licença tanta,
Que tudo se permite à rapazia.

Alto pois, afinar essa garganta,
E dê mote com sábia melodia
Aquela, que de vós for mais chibanta.

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