In "Presidentes de Portugal - Fotobiografias - Sidónio Pais", Alice Samara, Museu da Presidência da República, 2006."Sidónio Pais foi morto por José Júlio da Costa (1893-1946) na estação do Rossio, a 14 de Dezembro de 1918. Mas se esse facto foi considerado insofismável, várias teiroas tentaram responder ao que na altura sugia como uma questão essencial: quem foram os mandantes do crime?...
Existem, portanto, várias teorias sobre quem teria armado o braço de José Júlio da Costa. No entanto, primeiro que tudo, não se deve descartar a hipótese mais simples. Foi um acto solitário, sem ser o resultado de uma complexa conjura, sem ter sido uma ordem. Pode ter sido, como aliás foi escrito, um acto político, de um homem que desejava afastar o que considerava um ditador, um tirano. Para outros, José Júlio da Costa não perdoou ao regime e a Sidónio Pais as prisões dos rurais que tentaram as primeiras ocupações de terras no Alentejo, no Vale de Santiago, em Novembro de 1918, que decorreu em simultâneo com a greve geral organizada pela UON.
É certo, porém, que como vários observadores coevos referem, o assassinato de Sidónio Pais já tinha sido sugerido. Em Agosto de 1918, por exemplo, o jornal sidonista "A Situação" refere que circulam papéis pedindo a morte do "ditador". O ambiente era já de grande crispação política, sobretudo depois da malograda tentativa revolucionária de 12 de Outubro. Alguns dos colaboradores e amigos do Presidente teriam mesmo chegado a alertá-lo para o perigo. Depois do primeiro atentado, esta possibilidade era ainda mais forte e entrava mesmo nos cálculos de forças políticas que gizavam planos para o caso de tal acontecer. Depois do primeiro atentado, os homens que compunham a Junta Militar reúnem-se no Quartel do Carmo, em Lisboa, para delinear um possível gabinete.
Para alguns sidonistas, o Presidente da República sabia que ía morrer. Mas mais do que isso, estaria pronto a fazê-lo pela Pátria. E foi desta matéria que se construiu o mito Sidónio Pais.
Se José Júlio da Costa não actuou sozinho, quem foram os seus cúmplices? A 14 de Dezembro de 1951, o jornal "A Voz" publica um artigo intitulado "Quem mandou matar Sidónio Pais?". Segundo uma fonte não identificada, que falara com um alegado cúmplice de José Júlio da Costa, existira de facto um plano para assassinar o Presidente. Teriam sido arregimentados vários homens para levar a cabo a tarefa, dois para a estação do Rossio e outros dois para a de Entrecampos. refere, ainda, a existência de dois indivíduos no Porto, prontos a matar Sidónio Pais, caso o atentado não tivesse sucesso em Lisboa. E à pergunta "Porque mataram o Presidente?", respondeu: "Quando em 1918 foi assaltado o Grémio Lusitano, sede da Maçonaria, por ordem do capitão Lobo Pimentel, a Ordem pensou que se tratava de uma traição de Sidónio Pais, que era filiado. Disse-se então que nascera desse facto o plano para o assassinar. Todavia não fora Sidónio Pais quem mandou assaltar o Grémio Lusitano." Ainda segundo esta fonte, os conjurados tinham recebido as armas na loja maçónica Eugénio dos Santos. O cúmplice citado por esta fonte anónima chamava-se Cândido de Oliveira, era natural da uma aldeia do concelho de Ourém e morrera em março de 1944.
Este depoimento, feito tantos anos depois dos acontecimentos, tem de ser visto com muitas reservas.
Da lista dos alegados mandantes constam a Maçonaria, o Partido Democrático, os monárquicos e os sovietes. Vejamos alguns exemplos. Nesta H. Webster no seu livro "Secret Societies & Subservive Mouvements", publicado em Londres, em 1924, acusa a Maçonaria. Esta organização secreta, tanto em Portugal como em Espanha, teria tido não só um papel subversivo mas também "revolucionário" e "sanguinário". A Maçonaria e a Carbonária teriam organizado as revoluções em Portugal e, para além disso, eram responsáveis pela morte do rei D. Carlos I e do príncipe Luís Filipe (que foram assassinados no Terreiro do Paço em Fevereiro de 1908). Segundo o mesmo autor, teriam sido maçons moderados que teriam confidenciado a um maçon inglês em 1919 que o assassinato de Sidónio Pais fora gizado por determinadas lojas. Fora em Paris que se decidira o afastamento do Presidente da República, numa reunião entre maçons portugueses e o Grande Oriente de França. refer ainda o facto de que o assassino tinha sido libertado durante a revolução de Outubro de 1921 e que não fora recapturado. De facto, José Júlio da Costa só seria novamente preso em 1927, durante a Ditadura Militar.
Os homens do Partido Democrático, inimigos jurados de Sidónio Pais e tidos como estreitamente ligados à Maçonaria, fazem igualmente parte do rol de suspeitos. Para muitos seriam os que mais tinham a ganhar com o desaparecimento do Presidente da República. Dizia-se que José Júlio da Costa era maçon e filiado no Partido Democrático, agindo sob as suas ordens.
Eurico de Campos, inspector da polícia, no livro "Quem são os assassinos do Dr. Sidónio Pais?" (Estudo de investigação criminal) afirma que "... foram os monárquicos que armaram o braço que assassinou o Dr. Sidónio Pais". Os realistas planeavam a restauração da monarquia e o Presidente da República ía ao Porto "... romper hostilidades sobre os monárquicos, demitindo Sollari Alegro e Margaride, libertando os presos políticos e inclinar-se abertamente para as esquerdas..."
O assassinato de Sidónio Pais tem sido bastante discutido e analisado. Até Fernando Pessoa lhe dedicou várias páginas. No entanto, nehnhuma destas teorias se revelou suficientemente sólida para ser consensualmente aceite. Ainda hoje, para a História, o que se pode dizer com segurança é que foi José Júlio da Costa que matou Sidónio Pais."