quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Primeira travessia aérea do Atlântico Sul




Gago Coutinho e Sacadura Cabral


A primeira travessia aérea do Atlântico Sul foi concluída com sucesso por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, em 1922, no âmbito das comemorações do Primeiro Centenário da Independência do Brasil.

Nos primórdios da aviação, tratou-se de uma viagem épica, cheio de acontecimentos inesperados, estórias e de histórias, onde um pouco de tudo aconteceu. E foram precisos 79 dias e três hidroaviões para chegar a Terras de Vera Cruz.

A viagem iniciou-se em Lisboa, às 16.30h do dia de 30 de Março de 1922, utilizando um hidroavião monomotor Fairey F III-D MkII, equipado com motor Rolls-Royce, e especialmente concebido para a viagem, a que foi dado o nome de "Lusitânia".

O "Lusitânia" era pilotado por Sacadura Cabral, enquanto a navegação estava a cargo de Gago Coutinho que utilizava o novo instrumento de navegação aérea - sextante- da sua autoria que, associado a um horizonte artificial, permitia medir a altura dos astros e que haveria de revolucionar a navegação aérea à época.

A primeira etapa da viagem - Lisboa-Las Palmas- foi concluída, no mesmo dia, sem incidentes, embora tenha sido notado, por ambos, um excessivo consumo de combustível.

A 5 de abril, partiram rumo à Ilha de São Vicente, no Arquipélago de Cabo Verde, cobrindo 850 milhas.

Aí permaneceram até 17 de abril para proceder a reparações no hidroavião, tendo partido das águas do porto da Praia, na Ilha de Santiago, rumo ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo, em águas brasileiras, onde amararam no dia 18.

O mar revolto causou danos no "Lusitânia", que perdeu um dos flutuadores, sendo Gago Coutinho e Sacadura Cabral recolhidos por um cruzador da Marinha Portuguesa, que os conduziu a Fernando de Noronha.

Apesar de exaustos pelo voo de 1.700 Km, comemoraram o achamento, com precisão, daqueles rochedos em pleno Atlântico Sul, apenas com o recurso ao método de navegação aérea criado por Gago Coutinho.

Com as opiniões públicas portuguesa e brasileira envolvidas na expedição, o Governo Português enviou outro hidroavião Fairey, baptizado como "Pátria". Chegado no dia 6 de Maio, o hidroavião foi desembarcado, montado e revisto, tendo reiniciado a viagem a 11 de Maio.

Entretanto, novo revés acometeu os aviadores portugueses, quando, tendo regressado e sobrevoando o arquipélago de São Pedro e São Paulo para reiniciar o trajecto interrompido, uma avaria no motor os obrigou a amarar de emergência, tendo permanecido nove horas como náufragos, até serem resgatados por um cargueiro inglês - o Paris City - em trânsito na região.

Levados novamente a Fernando de Noronha, aguardaram até 5 de Junho, quando lhes foi enviado um novo Fairey F III-D (o n° 17), baptizado pela esposa do então Presidente do Brasil, Epitácio Pessoa (1919-1922), como "Santa Cruz".

Transportado de Portugal pelo navio Carvalho Araújo, foi posto na água do Arquipélago de São Pedro e São Paulo, tendo levantado voo rumo a Recife, fazendo escalas em Salvador, Porto Seguro, Vitória e dali para o Rio de Janeiro onde, a 17 de junho de 1922, pousou em frente à Ilha das Enxadas, nas águas da baía de Guanabara.

Gago Coutinho e Sacadura Cabral foram aclamados entusiasticamente como heróis após a conclusão da primeira travessia do Atlântico Sul.

Esta epopeia atribulada demorou setenta e nove dias, embora o tempo de voo para percorrer os 8.383 Km tenha sido de apenas sessenta e duas horas e vinte e seis minutos.

O "Santa Cruz" era feito madeira, revestida em tela, tinha um comprimento de 10,92 metros, uma envergadura de 14,05 metros, uma altura de 3,70 metros, pesava em vazio 1800 Kg e 2500 Kg equipado, e a velocidade de cruzeiro era 115 Km/hora.


Artur de Sacadura Freire Cabral
Nasceu a 23/5/1881, em Celorico da Beira. Estudou na Escola Naval entre 1897 e 1900.
Colocado em Moçambique, serviu e foi comandante de vários navios até 1906. Daí até 1915, participou em várias missões de carácter geográfico, também em África, onde conhece Gago Coutinho e inicia com ele uma profícua amizade.
Em 1915 seguiu para França, onde foi tirou o brevet na Escola de Aviação Militar em Chartres e depois na Escola de Aviação Marítima de Saint Raphael. Regressa em 1916. Em 1919, pilotou desde Inglaterra um hidroavião F3. Em 1921, juntamente com Gago Coutinho, fez a primeira ligação aérea Lisboa-Funchal, preparação da projectada travessia do atlântico. 1922 é o ano da célebre travessia do Atlântico Sul, que concluiu juntamente com Gago Coutinho.
A 15 de Novembro de 1924, morreu no Mar do Norte, quando voava de Amesterdão para Lisboa. Tinha 43 anos e era então um prestigiado comandante da armada e figura pública de mérito.

Carlos Viegas Gago Coutinho
Nasceu a 17/2/1869 em Belém (Lisboa).
Aos 16 anos, ingressou na Escola Politécnica para preparar a sua entrada na Escola Naval, um ano depois. Em 1896, como responsável de navegação do transporte Pero de Alenquer, apaixona-se definitivamente pela ciência da navegação, a qual acabará por desenvolver. Em 1898, já reconhecido como promissor geógrafo, inicia os seus trabalhos de cartografia colonial, num dos quais conhece Sacadura Cabral.
Participou na delimitação da fronteira luso-holandesa em Timor, em Moçambique, em Angola, fechando os seus trabalhos de geógrafo em S. Tomé, corria o ano de 1918. Após essa data desperta o seu interesse pela navegação aérea que o irá conduzir à invenção de um horizonte artificial para o sextante, tornando este um instrumento eficaz na navegação aérea.
As viagens de 1921 para a Madeira e 1922 para o Brasil, conjuntamente com o seu amigo Sacadura Cabral, irão comprovar o brilhantismo de Gago Coutinho. Depois da morte do seu companheiro e amigo, dedicou-se à investigação histórica das viagens marítimas, até ao seu falecimento, com 90 anos, a 18/2/1959.

2 comentários:

pinto disse...

Cumprimentos

http://gagocoutinho.wordpress.com/

PB Pereira disse...

Muito Obrigado Dr Rui Pinto
Grato pela sua visita a esta casa onde, entre outras coisas, vou tentando relembrar/alertar para a importância do feito da 1ª Travessia Aérea. Gostei do seu blogue e fiquei curioso com o trabalho de doutoramento. Seguramente, terei muito a aprender sobre Gago Coutinho. E os outros pioneiros, Sarmento Beires, Lisboa-Macau?
Volte sempre.
Pedro Barros